Era quase madrugada e a chuva caia voluptuosamente por toda a cidade do Penedo, e com maior intensidade no Convento dos Anjos. Local onde alguns jovens universitários, ali estavam instalados por até então, quatro dias. No seguinte, eles partiriam.
Todos encontravam-se, naquele momento, em um dos quartos do Convento, onde contavam histórias de terror e fatos reais de sua vidas, fatos estes, não menos aterrorizantes. Foi quando o assunto voltou-se para o terror daquele lugar. De repente as luzes apagaram-se e duas batidas foram ouvidas na porta, o silêncio predominaria o lugar, não fosse o som rouco e agudo dos morcegos que lá cercavam.
Era um Convento semi-abandonado, os quartos se encontravam no primeiro andar, as paredes eram mofadas e prevaleciam rachaduras, o piso era de madeira e em algumas partes, a mesma deixava brechas que permitiam ver a claridade de qualquer luz e pequenos movimentos nos compartimentos baixos. No momento do “apagão”, contavam a história sobre O Cara. Este, era uma pilastra que havia em uma das escadas gigantescas do Convento. No primeiro dia no local, quando voltavam de sua primeira farra noturna, perceberam que todas as vezes que dobravam para subir nessa escada que ficava logo após o primeiro corredor de entrada, se assustavam, pois esta pilastra, assemelhava-se a uma pessoa encostada na parede, com uma das pernas flexionadas e pisando na mesma. O pânico logo foi instalado em todos, logo após as batidas, a luz retornou e todos falavam sobre o toque ouvido, saíram então do quarto e nada havia no corredor.
O grupo era de doze estudantes, porém, um deles havia descido para levar seu, então namorado, ate a saída, o portão grande e pesado da clausura, e neste exato momento ligou pedindo para que descessem para levar a chave, porque a mesma estava sem ela. Por causa do medo, todos resolveram descer juntos, o banheiro ficava no térreo e os quartos no primeiro andar, eram apenas três homens, e o resto eram mulheres. Na descida tudo estaria normal, não fosse a observação de que a sala, onde se encontrava os restos mortais de cinqüenta e oito Freis, se encontrava aberta, onde isso só acontecia durante a manhã.
Ainda assim, seguiram ate o portão e o abriram, quando voltavam, contaram assustados o que havia acontecido no quarto e sobre a porta do Cemiterium Sacrum estar aberta, foi quando ávidos de saírem daquele local e voltarem para o, até certo ponto, “porto seguro” do quarto, dobraram o corredor para subir a longa escada de infinitos degraus e viram... O Cara. Um homem de cerca de um metro e setenta, loiro e com um macacão de zelador, na mesma posição a qual foi imaginada por todos.
Uma gritaria sem fim foi iniciada e ao invés de seguirem em frente todos voltaram para o caminho anterior e seguiram pelo outro corredor que dava acesso a cozinha, e bateram nesta porta com toda força que tinham. Quando alguns Freis e os zeladores da casa abriram a porta assustados, os jovens atropelaram as palavras tentado explicar o que havia acontecido e ao mesmo tempo perguntar quem poderia ser O Cara, com exceção apenas, de uma das jovens, que era a mais medrosa do grupo, e que não conseguia proferir palavra alguma, tomando a água com açúcar que haviam providenciado para ela.
Passado o susto maior e depois de todos acomodados nas cadeiras da longa mesa de madeira em formato de crucifixo que lá havia, o Frei que coordenava a casa contou-os uma história, sobre um zelador que lá trabalhara há alguns anos. Ele era o responsável pela manutenção do cemitério, para que ele se conservasse limpo e ileso, pois havia na cidade, um certo grupo de adoradores do diabo que remotas vezes já haviam roubado restos mortais dos Freis, para os utilizarem nos seus Rituais Satânicos. A história havia começado a treze anos, onde alguém tentara roubar determinados ossos de uma das catacumbas, e na tentativa de impedir o roubo, este zelador foi morto.
Desde então, em todos os anos que se seguiram, quando era o dia que isso havia acontecido, no mesmo horário, o fantasma do zelador aparecia e se colocava em seu posto, na escada, onde tudo havia acontecido, para proteger o local assegurando-se assim, que ninguém mais o roubaria.
03/09/08