Um Tempo
Não tenho mais tempo para minhas mágoas. Tenho que correr atrás da vida real. Esta, independente de tudo e qualquer situação: persiste em continuar. Continua em persistir. Ainda não tenho bem certeza do quanto isso pode ser bom, mas se é suportável, já vale.
Não sei o quanto as palavras se dispersaram de mim. Talvez tanto quanto os sentimentos mais dóceis. Talvez tanto quanto as ilusões – que se eram ilusões, cá pra nós, não deviam lá ser muito boas companheiras. Talvez tanto quanto as dores - que sim, posso dizer, dispersaram-se um bocado de meu âmago.
Mas elas não existem enquanto me ocupo com afazeres diários, com obrigações prazerosas, que me preenchem de felicidade ou de cansaço. Ou simplesmente são relevadas enquanto tenho tarefas diversas para executar, de forma a meu tempo apenas a elas dedicar-se.
Mas é claro, sempre há Aquele dia, Aquela música, Aquela situação, Aquela lembrança. Aquilo, Aquela, Isso, Essa e o tudo que podem abarcar em um momento apenas. Se ter boa memória pode te livrar de novas desgraças, também te impede de sobreviver sem elas, de esquecê-las, superá-las.
Continuo no casulo, de espreita, esperando o momento certo para dedicar-me aos sentimentos mais profundos, aos medos, às dores, às lembranças. Felizmente com o amadurecimento eu perdi a pressa, a necessidade afobada dos acontecimentos serem no momento do pensamento existido.
Continuo em paz com minha alma, que óbvio, tem desvios momentâneos, mas que não passam disso: momentos. Lágrimas insignificantes que caem e em poucos minutos secam, expiram, e são como uma limpeza da alma, e apenas isso. São apenas tropeços temporários, que nem chegam a transformarem-se em quedas.
Estou dando um tempo para mim mesma. Um tempo de mim mesma. Quem sabe de longe eu sinta menos e veja melhor a situação. Continuo aqui, de alguma outra forma: vendo, sentindo, analisando, sofrendo, sorrindo, chorando... vivendo. Sempre!
Flor de Lótus
26/04/2011
Nenhum comentário:
Postar um comentário