quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

Os Sentidos


Ele abraçou-me com veemência, necessidade, ardência. Seu rosto, paralelo ao meu, permitia-me aspirar o cheiro de sua camisa lavada, envolvido em seu perfume. Não reconhecia a marca, mas certamente a buscaria em lojas e catálogos. Sentia necessidade de tê-lo após a partida.

Precisava explicitar verbalmente o que se passava em meu corpo, em minha mente. Mas tal qual meus instintos animalescos, assim, e apenas dessa forma, consegui comunicar-me: sussurros, rangidos, respiração ofegante e descompassada. Eram os sons que ecoavam, me entregavam.

Por uma fração de tempo, consegui, após esforço inimaginável, abrir os olhos e comprovar que não se tratava de sonho ou delírio mental, causado pelas substâncias alcoólicas e nicotinas que ingerira toda a tarde. Ele estava em meus braços, ou talvez, eu nos dele. Se é que havia diferença.

O sabor de sua saliva preenchia minha necessidade de líquido, nada mais me era desejado. Os lábios mordidos expunham um aroma característico do vinho que havíamos ingerido, misturado ao sabor do sangue nos cortes abertos pela violência da necessidade. Eu poderia digeri-lo sem ao menos perceber.

E como se o cheiro, os sons, o sabor e a visão me fossem insuficientes, precisava tocá-lo mais fundo, sentir-me parte de sua matéria. No momento em que as roupas eram meras coadjuvantes do ambiente, mesclei-me em seu corpo. Enfim fui completa.


Flor de Lótus
2011

quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

Angústia*


Dei, repentinamente, para me introverter com a Angústia. Com a palavra Angústia, com a sensação Angústia. Simplesmente com a Angústia. Dei para necessitar senti-la, para expor outras emoções: dor, medo, sofrimento, inconstância respiratória, lágrimas escondendo-se nos cantos dos olhos. Lembranças. Memória.
O que será que causa a Angústia?

Falar de Angústia, é instantâneo, no mesmo momento deixa de ser apenas palavra, apenas substantivo, apenas representação de sentimento, torna-se o próprio sentimento. Afinal, quem pode afirmar que não sabe como ela seja?
Quem pode afirmar que jamais A sentiu?

Angústia é o sentimento interno revirando os órgãos, necessitando ser externado através de dor. A dor, que a causa, parece ser também, o paliativo. Eis onde reside a Angústia. No odiar o que se precisa. É a confusão, o turbilhão do sentir-se mais que nunca em si, contudo, com a falta, com a perda. Como é possível ser menos você mesmo quando, ironicamente, você está mais si próprio?
Qual será a composição da Angústia?

É bom saber que ela ainda existe. Sim, a Angústia prova a existência humana. Comprova a vida, porque vida e sofrimento. Vida e arrebatamento. Vida e … É disso que é feita a vida: Dela + algo. Sempre. E a Angústia a acompanha: intermitentemente. Clarice Lispector deu para pensar em tartarugas. Eu, dei para pensar em Angústia. Kurt Cobain também gosta e pensa e fala sobre tartarugas. Embora não citem, eu vejo Angústia na fala deles, nos olhos deles.
Que tem a ver tartarugas e Angústia?

Dei assim, não mais que de repente, pra pensar em Angústia. Talvez não tão repentinamente assim. Uns filmes aqui e acolá. Umas histórias aqui e acolá. Uns enredos aqui e acolá. Uma coleção de filmes cuja temática deixa de ser drama, comédia, romance, terror, suspense, dando lugar para a denominação: Angústia.
Como será que a Angústia se desenvolve? Qual será sua cor? Qual será seu cheiro? Qual será seu sabor? Qual será sua tessitura?


“Angústia: s.f. Aflição; ansiedade; agonia.”
(Minidicionário Luft)

“No dia em que 'ocê' foi embora eu fiquei, sentindo saudade do que não foi.”
(Lenine – O último pôr-do-sol)


*Texto escrito após assistir o filme Como Esquecer. Mas, remetendo também a outros que despertaram a mesma sensação: Angústia.


Flor de Lótus
30/11/11
Abstinência de Fantasia


     Uma coisa boa de quando se é adolescente, é ainda poder ser diferente, ser você mesmo, ser da forma que se deseja e, ainda assim, ser aceito; ainda que não seja. Afinal, no final, todos os adolescentes se acham diferentes e não-aceitos. Ao menos os que realmente valem a pena.
     Quando se amadurece há muitas obrigações que, pelo teor da forçosidade, tornam-se necessidades. Torna-se obrigado a votar; obrigado a frequentar o médico regularmente; obrigado a pagar sua própria passagem; obrigado a preocupar-se com suas contas... obrigado a trabalhar, e, devido a isso, muitas vezes abster-se do que te faz feliz, do que te faz ser você mesmo; das suas atividades diárias não-obrigatórias, porém, também necessárias.
     Talvez de todas as obrigatoriedades citadas, a mais prazerosa seja trabalhar, pois tende, ou ao menos pode, unir o útil ao agradável. Mas claro que, nas bandas de cá, poder trabalhar no que se gosta é privilégio de poucos, todavia, isso não é assunto para o momento. Além de poder unir ambas: utilidade e prazer, tende a beneficiar outréns e, através do dinheiro recebido permitir gastar com aquilo que deseja. E com aquilo que necessita; que na maioria das vezes é aquilo que é obrigatório.
     É, realmente eu não consigo viver no mundo da fantasia.


Flor de Lótus
24/11/11

sexta-feira, 11 de novembro de 2011

Faces da Morte*





As DORES e suas formas.

O MEDO e seus disfarces.

A MORTE e suas faces.





A Exposição que se encontra no SESC/AL, causou-me o reconhecimento desses três elementos citados, em destaque, acima.



A princípio, como porta-voz do que estará por vir, um esqueleto - o anfitrião.



Em seguida, carcaças de animais, como bois e vacas, me fazendo uma referência a seca. Olhos fundos, vagos, desanimados.



Continuando as cenas voltadas à morte: rostos sem identificação, bocas e dentes expondo dor e medo. Um grito surdo, mas ouvido em suas expressões.



Vida e morte parecem chocar-se, na busca extrema, dos rostos e carcaças expostos, pela sobrevivência.



Percebe-se o extremo do ser humano buscando forças através de faces hediondas, de lutas corporais para continuarem vivos.



Sente-se a dor e a tristeza. A desilusão, o esgotamento pela luta vã. Mas ainda assim, a tentativa.



O quanto percebe-se de morte, no que está estagnado para a eternidade, é sentido de vida, nesse conflito, nessa busca insana e violenta para ainda existir.



Demonstra, a partir de outra perspectiva, a luta diária de cada pessoa contra seus demônios íntimos.



A peleja contra os maus sentimentos com os quais deparamo-nos ao vivermos, ao relacionarmo-nos com outrens.





Finalizo com uma frase que parece cair perfeitamente, aos meus olhos, com a Exposição:



“Eu vi a cara da morte, e ela estava viva. Viva!" (Cazuza).





Flor de Lótus

Outubro 2011



*Texto sobre a Exposição do Sesc:

O insetiSismo


quarta-feira, 19 de outubro de 2011

Transição


      Uma década, quando referenciada a partir da transição da adolescência para a fase adulta, faz muita diferença. As fantasias tornam-se realidades, vistas com as luzes acesas, normalmente coloridas de uma boate, embaçadas por bebidas alcoólicas ou das ruas silenciosas e vazias das madrugadas.
      Os desejos tornam-se reais, ou simplesmente deixam de ser desejos, pois as necessidades sobrepõem-se a eles, e o tempo, encurtece. As lembranças tornam-se as melhores alegrias, a saudade as melhores certezas de se ter vivido; viver passa a ser mais o acontecido, que o acontecerá.
      A liberdade buscada está à sua frente, contudo, regulada, então você descobre que ela é uma utopia, e que justamente quando mais acha que está em cárcere, é que está mais livre. Por que é necessário perder, para raciocinar e entender certas coisas?


Flor de Lótus
20/09/11

domingo, 21 de agosto de 2011


Minha Vida



Estou lhe dando minha vida
Espero que faça bom proveito dela
Cuidando como se sua fosse,
Porque desde então
É assim que eu a sinto.

Quero então viver
Para poder vê-lo e senti-lo,
Matando toda essa abstinência
Que sua química me causa
E em mim faz falta.

E assim eu quero que você viva
Para que meu corpo -  –
Seu remédio -
Possa ser a cura de suas mazelas,
De suas faltas e ansiedades.

Eu quero que você viva por mim
Que durma e acorde
Esperando o dia de me provar,
E fazer de sua cura
O meu maior prazer.

Meu viciado predileto
Por quem a droga fez apaixonar-se,
E de mantenedora de dependência
Fez tornar-se dependente.


Flor de Lótus
27/03/09

domingo, 14 de agosto de 2011

Minha vida de acordo com Legião urbana*


Você é um homem ou mulher: Eduardo e Mônica
Descreva-se: Metal contra as nuvens
Como você se sente: Acrilic on canvas
Descreva o local onde você vive atualmente: Monte Castelo
Se você pudesse ir a qualquer lugar, onde você iria? A Montanha Mágica
Sua forma de transporte preferido? Uma outra estação
Seu melhor amigo: Os Anjos
Você e seu melhor amigo são: La Nuova Gioventú
Qual é o clima: Vento no Litoral
Hora do dia favorita: Antes das seis
Se sua vida fosse um programa de TV, o que seria chamado: Daniel na cova dos leões
O que é vida para você: Mil pedaços
Seu relacionamento: Teorema
Seu medo: As Flores do Mal
Qual é o melhor conselho que você tem a dar: Love in the afternoon
Pensamento do Dia: O mundo anda tão complicado
Meu lema: Ainda é cedo


















*Jogo do Facebook.


Flor de Lótus
Julho 2011

A cor da música*

   As cores são utilizadas pela cromoterapia para remeterem a um determinado estado de espírito; assim como também no auxílio à cura de doenças. Quando busca-se paz, o Branco é utilizado. Quando pensa-se em dinheiro, o Amarelo. Quando o interesse, embora não apenas financeiro, é material, vale-se do Marrom. Falando em saúde, o Verde. Paixão, o Vermelho. Amor, o Rosa. E assim por diante. As cores tem sim, esse 'poder' de remetimento à algo.
   Assim como As quatro estações de Beethoven, que direcionam a mente humana para cada estação especificamente, outras músicas podem, se for bem observadas, permitir essa identificação, esse reconhecimento: seja com estações, cores, ações... A intensidade dos toques, os instrumentos utilizados numa melodia, tanto quanto, ou até mais que, sua letra, são passíveis de hiperlink com as cores. Embora é fato, não seja exercício comum e/ou diário do ser humano.
   As cores na música também podem ser identificadas de acordo com a profundidade do quanto a melodia/letra toquem quem as ouve, as lembranças que remetem, as vontades que desperta. A música em questão, La Valse D'Amelie, cuja não tinha tido a oportunidade de ouvir anteriormente, possui, ao meu ouvir, tons que se elevam. Iniciando-se com um tom claro, quase invisível, com suas tonalidades multiplicando-se, divergindo, dando fusão à outras. Tal qual um arco-íris.
  Poderia observar dessas duas formas, as músicas: lembranças que remetem e vontades que despertam. Podemos, ainda, acrescentar-se a questão da letra em si. Contudo, de forma mais subjetiva, acredito que as lembranças e os desejos, são as mais interessantes. A música do exercício, começa singela, quase que uma dança íntima da mente com os sentimentos internos e individuais. Num segundo momento, de acordo com o aumento dos tons, ela permite o desejo da dança, o convite aos movimentos corporais, te tira da pura contemplação mental. Acredito que, o primeiro momento seria de cores claras; enquanto que o segundo, contemplaria as cores mais vibrantes. Os desejos modificam.
   A outra observação, que preocupa-se apenas com a melodia em si, ainda que de 'outra maneira' de observação, possui os mesmos sentimentos com relação às cores. Nesse caso, as lembranças se apresentam. No início, com um tom mais leve, fechando os olhos imagino mudanças de amarelo-claro e rosa. Transformam-se lentamente em azuis e verdes. Posteriormente, segue-se os tons de lilás e alaranjado. Na sequência, o vermelho se apresenta, no momento mais alto dos tons melodiosos. Nesse momento, a vibração é mais intensa, o êxtase é alcançado, então, posteriormente, a energia novamente decai. Então, os tons avermelhados transformam-se em alaranjados, lilases, azulados, esverdeados e novamente amarelos.
   Tons claros, discretos, calmos e pacíficos. Silenciosos.


*Texto baseado na música La Valse D'Amelie de Yann Tiersen.
Link: La Valse d'Amelie (Orchestre) - http://www.youtube.com/watch?v=RD3WwM6l1J0&feature=related

Flor de Lótus
Agosto 2011





O Ato de escrever, e Eu

   A princípio, como tantos outros relatos e outras pessoas, comecei a escrever pela necessidade de expôr em palavras os sentimentos que pareciam me triturar por dentro; então, para não ser por eles destruída, transformei-os em poesia.
Talvez, exatamente por essa motivação tão íntima e pessoal, eu não me importava com métrica, forma, beleza visual ou com a compreensão de outrens, até porque não os fazia para serem lidos. Apenas quem realmente me conhecesse, ou soubesse do momento em que os escrevera, veria algum sentido no que eu escrevia, poderia entender e “racionalizar” os textos.
  Atualmente, até pela vontade de enveredar pelo lado acadêmico da Literatura, tenho mudado e, de alguma forma, me preocupado mais com a forma de expressar esses sentimentos, mas jamais os excluindo do ato da escrita, pois acredito que não há como escrever sem pôr sentimento.
   Não busco, necessariamente, racionalizar o que escrevo, apenas transformá-los no mais bonito e transparente quanto eu puder. Para mim, os sentimentos são a gasolina do ser humano, independente de quais sejam, são sempre os responsáveis por seguimos em frente e realizarmos qualquer ação em nossa vida.
   Música é algo que me auxilia no meu processo de escrita. Tanto me dá idéias, como me dá inspiração mesmo, no sentido mais abstrato da palavra. E além desses motivos, ela, ao menos na minha percepção, nos proporciona a sensação de transfiguração, nos transporta para onde quisermos. A música nos faz ser, ao menos no momento em que a ouvimos, o que desejamos.
   Dessa preocupação, de não mais apenas desabafar e me limpar internamente, surgiu a necessidade, de quem sabe, permitir através de meus textos que outros também aliviem-se, ou simplesmente sintam-se melhor, de alguma forma e por algum motivo. Com essa nova necessidade, surge também a de expressar meus sentimentos e ideias da melhor forma possível, que se faça inteligível.
    Esse é uma das minhas maiores dificuldades é tentar sempre me fazer entendida. Outro cuidado é com a repetição de termos e de histórias, o receio de cair no clichê, principalmente pelo fato de que, hoje em dia, no escrevo apenas para desabafar, mas também porque gosto do ato em si. Criar histórias, e fazer com que as pessoas se interessem por elas, tenham ideias a partir das leituras, e, quem sabe, vontade de também escrever suas próprias histórias.
    Para resolver – ou o menos tentar – eu pratico a escrita com frequência, tentando me colocar através do olhar do leitor. Volto e tiro palavras, frases, pontuações. Volto e ponho palavras, frases, pontuações. Tudo para que eu sinta que o texto está o mais perfeito possível. Sinto que estou melhor, embora ainda deseje mudar coisas em meus textos após algum tempo de escritos e postados. Acredito que tenho um talento – além do gosto e necessidade - para escrita, e que preciso apenas lapidá-lo melhor, para que a beleza seja visível a outras pessoas.
   Não saberia identificar se há alguma parte mais difícil no momento de escrever um texto, pois isso é muito relativo. Se a ideia é daquelas que tira o sono, que chega ao ponto de você no conseguir executar nada bem até externá-la, escrever torna-se consideravelmente fácil, é simplesmente lapidá-lo depois. Caso haja a necessidade de escrever, mas ainda não se saiba exatamente o quê, ou como expressar, unir as palavras torna-se muito doloroso. É quase como uma doença que no se sabe a cura, ou um remédio que não faz efeito.
   Talvez, o mais fácil seja escrever sobre aquilo que pensamos e desejamos, simplesmente queremos; e o mais difícil, seja escrever sobre algo que outra pessoa tenha pensado e desejado, que outra pessoa queira. Como por exemplo, um texto que seja solicitado sobre um determinado assunto, com prazos de entrega etc. Contudo, ainda assim, para quem escreve com uma certa frequência, são pedras no meio do caminho, que não atrapalham a andada, apenas a tornam mais valorizada.

Flor de Lótus
Agosto 2011

quarta-feira, 10 de agosto de 2011

Envelhecer


Quando a gente cresce
A gente aprende que nem tudo que é bom
É certo;
Que nem tudo que a gente quer fazer
A gente deve;
Que nem tudo que se sente de bom no presente
Vai ser bom no futuro;
Que a dor de hoje é grande
Mas a de amanhã pode ser pior.


Com o tempo a gente aprende
A diferença entre coleguismo e amizade,
Entre dividir bons momentos com os amigos
E os amigos que só te querem em bons momentos;
Aprende a diferença
Entre palavras boas
E boas palavras;
Aprende que as pessoas passam
mas a lição que nos ensinam
Fica;
Que suas feições podem se perderem na memória
Mas sempre haverá algo
Que nos fará lembrá-los.


Em algum momento
A gente percebe,
Que não tem todo tempo do mundo
Só porque é jovem,
Mas que isso não significa
Que tem de fazer de tudo,
Porque tudo não é para todos.
Aprende que amor
É a droga mais perigosa
Com a crise de abstinência mais poderosa,
E que independe da presença física
Do ser desejado.


Flor de Lótus
Dezembro 08
Não Sei


Não sei ser poeta
Nem discorrer poeticamente sobre as horas,
Ou os móveis que parecem mexer-se
Por entre essa madrugada de insônia.


Não sei descrever
Liricamente, as sensações dóceis que me passam,
Os sentidos trágicos que me cercam
Por esses dias de vida que me acompanham.


Contudo, sei apreciar
A convocação íntima à arte da escrita,
A necessidade de tentar extrapolar os sentimentos
Por essas palavras inconsequentes.


Flor de Lótus
28/05/11
Música e lembranças



   Houve um dia em que eu estava mal, e eu passei uma maldita tarde de sexta-feira, deixando-a ainda pior. Nessa tarde, havia muita conversa, desabafo e... conselhos? Via internet. Essas ações, felizmente, me mantiveram de alguma maneira, controlada. E com uma das pessoas com quem conversava, o assunto desembocou em músicas. Ele afirmou ter algumas músicas que gostava de ouvir quando estava mal. Sabe aquelas letras tipo: “suicídio imediato” ou “recuperação automática?” Pois é, ele me indicou 3, e eu recordo claramente. Ele perguntou: “Tem certeza que você aguenta?” E eu disse: “Manda. Pior que eu tô, não fico”. Pois bem, as letras eram: Everybody's gotta learn something do Beck; Society do Eddie Vedder e The Moon do The Swell Season.

   Interessante como as músicas podem fixar situações e sensações. Ainda que muito tempo tenha se passado, quase pode-se voltar ao momento exato de certos atos. Pena não poder modificá-los, nem na realidade, nem na utopia imaginativa. De forma que, se a ação continua viva, ainda que no pretérito, tudo que ela acarreta, ainda que no mundo dos sentidos, assim também continuará. O bom é que, como elas aproximam maus momentos, assim também ocorre com os bons. E quando passa o furacão, a tempestade, você pode ter algum momento de paz, simplesmente com a audição de uma música.

   Sempre há “aquele dia” em que você acorda pra sentir toda a dor dos erros e perdas da sua vida. Bem, é fato que, também pode ser “aquela semana”. Mas você sabe que em vez de “suicídio imediato” você sairá com “recuperação automática”. Em vez de afundar, você submergirá, da mesma forma que alguém jogado fortemente numa piscina profunda, o é. Porque tudo que é intenso, deixa a sensação de “nada pode ser pior” ou de “se passei dessa, nada mais me derruba”. É quase que a sensação de tornar-se um super-herói.

   Claro, essa segurança toda pode também ter um lado negativo. Algumas vezes, as coisas podem sim ser extremamente dolorosas e, infelizmente, ter sentido algo tão profundo e negativo antes, não te permite a insensibilidade. Mas, você realmente acredita que, em breve, muito em breve, tudo estará solucionado e você estará mais forte que antes. E a música, sempre participa disso: dessa queda-recuperação. Como de todo outro e qualquer momento da vida humana. Elas remetem a lugares, pessoas, situações, sentimentos...

   A música tem o dom de aproximar, como também de tornar em verdadeiro, ainda que no momento em que se ouve-a, algo irreal. Ouvi The Moon, hoje, pois fazia parte da trilha sonora de um filme que assisti. E certas lembranças, por outros motivos já reavivados, em mais vivas transformaram-se. Não canso de me surpreender com a memória. Em como ela pode nos passar uma realidade tão presente das sensações. Chega a assustar algumas vezes. Quase como se nada a pudesse controlar. Quase como se ela mandasse em você, e não o inverso. Como seria a vida sem trilha sonora? A dor não seria tão dolorosa. A vida não seria tão rimada. O amor não seria tão intenso. Nada teria profundidade, exuberância. Não teria vida.



Flor de Lótus
Julho 2011

quarta-feira, 13 de julho de 2011

Diálogo a partir de Nando Reis




ELE - Sim, desde que eu te vi, eu te quis.
ELA – Entre as coisas mais lindas que eu vi, eu te reconheci.
ELE - Eu quero olhar pra esse mundo. Ver o mundo em seu olhar.
ELA - Esperei por tanto tempo, e esse tempo agora acabou.
ELE - Não sei se o mundo é 'bão', mas ele ficou melhor desde que você chegou.
ELA - A gente movimenta o amor, a gente que enfrenta o mal.
ELE- Tornar o amor real é expulsá-lo de você, pra que ele possa ser de alguém.
ELA - Tentei fugir pra longe, madrugadas não saí.
ELE – Desde que você chegou, o meu coração se abriu.
ELA - Sou sua mas não posso ser.
ELE - Sou seu mais ninguém pode saber.
ELA - Amor eu te proíbo, de não me querer.
ELE – Duas pessoas não deixam de amar, que uma pessoa só não conta. Que uma pessoa só, não é ninguém.
ELA - A vida não precisa de juízes a questão é sermos razoáveis.
ELE - A falta de você me faz, diferente até de mim.
ELA - Só sei que vou chamá-lo de Ismael.
ELE – Meu mundo não teria razão, se não fosse a Zoé.
ELA - Espero que o tempo voe, para que você retorne, pra que eu possa te abraçar.
ELE – Eu vou andando, eu vou andando, eu vou cantando.
ELA – Já então agora dá, para dar amor.
ELE – Não digo que não me surpreendi.
ELA - Eu trocaria a eternidade pela noite que chegou.
ELE - Desculpe, estou um pouco atrasado, mas espero que ainda dê tempo.
ELA - Eu só queria com você me casar, pois você me completa.
ELE – Diga que você me quer, porque eu te quero também.
ELA - Ti amo.
ELE - Por que é que a gente não casa? Você quer se casar?
ELA - Quando eu vi as fotos da casa, tudo se esclareceu, tudo se acalmou.
ELE - O amor nos convidou, e nós dois dissemos que sim.


Letras utilizadas:
A letra A
A minha gratidão é uma pessoa
As coisas tão mais lindas
Bom dia
Como se o mar
Espatódea
Hare Krishna
Luz dos olhos
Monóico
N
Nos seus olhos
Por onde andei
Pra ela voltar
Quem vai dizer tchau
Relicário
Santa Maria
Segundo sol
Sim
Sou dela
Tentei fugir
Ti amo




Flor de Lótus
Julho 2011



quarta-feira, 29 de junho de 2011



***


Talvez ela o tenha ingerido demasiadamente lento, de forma que acabara por viciar-se na doce sensação que os goles criavam em sua garganta, até então, sequiosa pela ausência da tão ambicionada saliva.


Flor de Lótus


domingo, 5 de junho de 2011

Pensamento


E aí você pensa
Quem tem pensado em demasia
Que pensar tanto
Não é tão bom pensamento.


Que pensou demais
Em quem nem sabe pensar
E que o pensamento em quem se pensa
Nunca é reciprocamente pensado.


Flor de Lótus
04/06/11
Equilíbrio


Fui obrigada a mudar algumas coisas em mim -
Quem nunca se viu nessa situação?
Outras coisas, a vida e as situações ocuparam-se em, unidas, alterar.


Sempre senti-me um peixinho fora d'água
Mas se agora, não fico – ainda – todo tempo n'água
Ao menos não passo todo tempo em terra firme.


Não sei se alcancei o equilíbrio
Mas estou, ao menos um cadinho, equilibrada.


Flor de Lótus
28/05/11
Seres de Cemitério


Estátuas góticas paralisadas
Catacumbas vazias em seu interior,
Flores murchas, pelo longo tempo
Árvores enraizadas e já crescidas;


Ruas que se entrelaçam, continuamente
Epitáfios de adeus e saudade
Lágrimas caídas na areia descavada;


Anjos de mármore petrificados
Almas, que não igualmente, partem
Espíritos ao redor que observam;


O cheiro fétido da carne apodrecida
Os restos mortais ensacolados
Ossos cobertos apenas por sangue antigo,
Gavetas quebradas à espera de preenchimento;


O ar quase que paralisado
Futuras identidades, acabadas
Fotos gravadas para a eternidade;


Roupas pretas em aglomeração
Madeiras especializadas e modernizadas,
Corpos que agora estão imobilizados,
Órgãos triturados pelos vermes
Outros, dando uma nova chance de vida;


Seres que vão, para a chegada de outros,
E de sua futura reencarnação.


Flor de Lótus
30/10/03

quinta-feira, 2 de junho de 2011


Há tanta vida
            E há tantas mortes*


Na vida há alegria
Na morte há apatia;

Na vida há a beleza
Na morte há a tristeza.


Nas praças dos vivos
Não há a paz dos mortos;

Na praça dos mortos
Não há a insegurança dos vivos.


Na vida há o barulho
Na morte há o entulho;

Na vida há correria
Na morte há calmaria.


Nas ruas dos vivos
Não há o descanso dos mortos;

Na rua dos mortos
Não há o tráfego dos vivos.


Há tanta vida
            E há tantas mortes.


*Após visita ao Cemitério Nossa Senhora da Piedade.



Flor de Lótus
01/06/11

domingo, 15 de maio de 2011

Vivacidade


Sinto uma necessidade extrema de vivacidade.
Expira-se de mim por certo tempo -
acasalando consigo mesma.
Mas ela volta.
Sempre volta.


Tudo que o é, não o é todo o tempo.
O sol é apenas durante o dia -
a lua durante a noite.
O céu azul abstêm-se -
a chuva toma o lugar.
As borboletas escondem-se -
As mariposas cercam o ambiente.


Mas ninguém pode dizer que elas não existem.
Só porque ausentaram-se.
Temporariamente.


E nesse vai-e-vem desenfreado
O freio sempre dá o ar da graça.
Intemporariamente.


Como os desejos mais profundos
Que sempre estarão lá.
Até o dia da realização.




Flor de Lótus
2011
O Amor


O Amor.
Pequena palavra que transforma-se com a junção de poucas letras
Cada qual com um significado, que unidos
o cria.


Ah! O Amor!
Sentimentos que unos completam-se e o fazem existir.
A palavra que na ermitandade nada mais que palavras seria.


O Amor.
Percebe-se em seu chamado o ardor das emoções frígidas.
Onde ficou a suavidade dos toques,
e o doce brilho do olhar?


Ah! O Amor!
A completeza da ausência do ser amado o eterniza.
Como senti-lo, e ainda continuar o tendo em si?


O Amor.
A dupla saliva unificada na junção corporal.
O sentimento que foi feito para ser sentido
mas nunca vivido.


Ah! O Amor!
As lágrimas traspassantes da alma para o corpo
A ferida que torna-se exposta e incurável.


O Amor.
A utopia humana mais concreta e distópica
A crença mais infudada e distorcida
da mente humana


Ah! O Amor!
Cujo lar e aconchego no coração encontra.
Cuja transfiguração é dada no momento da dor.


O Amor.
Antes da lesão nada mais é que teoria.
É no momento do sangue transbordado
que enfim torna-se real.


Entre todas as descrições existentes.
Entre todas as descrições possíveis.
O que realmente é o Amor?



Flor de Lótus
11/05/11

Vômitos Alheios Especiais:

  • Kiko Oliveira
  • O Corvo - Maurício Oliveira
  • Issac Roberto
  • Willy Anderson
  • Diego Herbert
  • Léo Azevedo
  • Anita Talassa - Analice Leandro
  • Diogo Bezerra
  • Pedro Lima

Momento Leitura:

  • Livros e Afins
  • Adolfo Caminha: A Normalista
  • André Vianco: Bento, O Vampiro Rei 1 e 2; Os Sete; Sétimo
  • Anne Rice: A História do Ladrão de Corpos; Violino; A Hora das Bruxas 1, 2 e Lasher - Trilogia
  • Ari Denisson: baroque.doc
  • Arriete Vilela: Fantasia e Avesso; Áridas paixões, ávidos amores
  • Augusto dos Anjos: Eu e Outras Poesias
  • Bram Stocker: Drácula
  • Carlos Nealdo dos Santos: O Pianista do Silencioso
  • Charles Baudelaire: Um Comedor de Ópio; As Flores do Mal
  • Chico Buarque: Budapeste
  • Christopher Paolini: Eragon; Eldest; Brisingr (Trilogia da Herança)
  • Clarice Lispector: A Paixão Segundo G. H.; Uma Aprendizagem ou O Livro dos Prazeres; Agua Viva; A Hora da Estrela; Um Sopro de Vida; Perto do Coração Selvagem
  • Dan Brown - Código Da Vinci; Fortaleza Digital; Anjos e Domônios
  • Edgar Allan Poe: Histórias Extraordinárias
  • Elizabeth Kostova: O Historiador
  • Elton SDL: Mentalmorfose
  • Florbela Espanca: Sonetos
  • Flávio Moreira da Costa (Org.): As 100 Melhores Histórias Eróticas da Literatura Universal
  • Frank Miller: Sin City - A Cidade do Pecado
  • Gabriel Garcia Márquez: Memória de Minhas Putas Tristes
  • Goethe: Os Sofrimentos do Jovem Werther
  • J. K. Howlling: Harry Potter e A Pedra Filosofal; Harry Potter e A Câmara Secreta; Harry Potter e O Prisioneiro de Azkaban; Harry Potter e O Cálice de Fogo; Harry Potter e O Enigma do Príncipe; Harry Potter e A Ordem da Fênix; Harry Potter e As Relíquias da Morte
  • J. R. R. Tolkien: O Hobbit; O Senhor dos Anéis - A Sociedade do Anel; O Senhor dos Anéis - As Duas Torres; O Senhor dos Anéis - O Retorno do Rei
  • Joao Ubaldo Ribeiro: A Casa dos Budas ditosos
  • Joe Dunthorne: Submarino
  • Jostein Gaarder: Vita brevis; O dia do Curinga; Ei! Tem Alguém Aí?; Através do Espelho; O Mundo de Sofia
  • José Saramago: O Evangelho Segundo Jesus Cristo
  • Jô Soares: O Xangô de Baker Street; O Homem que Matou Getúlio Vargas; Assassinato na Academia Brasileira de Letras
  • Júlia Maya: O Despertar da Bruxa
  • Kai Hermann e Horst Rieck (recolheram depoimentos): Eu Christiane F., 13 anos, drogada e prostituída
  • Luís Fernando Veríssimo: As Mentiras que os Homens Contam
  • Lya Luft: O Quarto Fechado; A Asa Esquerda do Anjo; Reunião de Família
  • Lêdo Ivo: Ninho de cobras
  • Machado de Assis: Memórias Póstumas de Brás Cubas; Quincas Borba
  • Marcelo Rubens Paiva: Feliz Ano Velho
  • Maria Mariana: Confissões de adolescente
  • Marion Zimmer Bradley: As Brumas de Avalon - 4 volumes; A Casa da Floresta
  • Marquês de Sade: A Filosofia na Alcova; Contos Proibidos; Justine
  • Milton Rosendo: Os Moinhos
  • Neil Gaiman: Stardust
  • Nilton Rezende: O Orvalho e os Dias
  • Oscar Wilde: O Retrato de Dorian Gray
  • Ovídio: A Arte de Amar; Remédios para o Amor
  • Pauline Réage: A história de O
  • Paulo Coelho: Brida; O Diário de um Mago; As Valquírias; Na Margem do Rio Piedra eu Sentei e Chorei; O Demônio e a Srta. Pryn; O Alquimista; Onze Minutos; A Bruxa de Portobello
  • Platão: O banquete
  • Raven Grimassi: Bruxaria
  • Roger Shattuck: O Conhecimento Proibido
  • Sade: Filosofia na Alcova; Contos Libertinos
  • Sidney Sheldon: O Reverso da Medalha; A Herdeira; Juízo Final; Nada Dura para Sempre; A Outra Face
  • Stephen Chbosky: As vantagens de ser invisível
  • Stephen King: Carrie - A Estranha; A Torre Negra Vol. I - O Pistoleiro; A Torre Negra Vol. II - A Escolha dos Três; A Torre Negra Vol. III - As Terras Devastadas; A Torre Negra Vol. IV - Mago e Vidro; A Torre Negra Vol. V - Lobos de Calla; A Torre Negra Vol. VI - Canção de Susannah; A Torre Negra Vol. VII - A Torre Negra
  • Stephenie Meyer: Crepúsculo; Lua Nova; Eclipse; Amanhecer
  • Ágatha Christie: O Assassinato de Roger Ackroyd;Assassinato no Expresso do Oriente; Morte no Nilo; Morte na Praia;Um Brinde de Cianureto; Um Corpo na Biblioteca; Cai o Pano

Indicações Musicais:

  • A Mente
  • A-Ha
  • Adriana Calcanhoto
  • Agridoce
  • Alanis Morissette
  • Amy Whinehouse
  • Audioslave
  • Cachorro Grande
  • Carla Bruni
  • Cazuza
  • Celtic Woman
  • Cerva Grátis
  • Chico Buarque
  • Cindy Lauper
  • Coeur de Pirate
  • Coldplay
  • Cris Braun
  • David Bowie
  • Emilie Simon
  • Engenheiros do Hawaii
  • Enya
  • Epica
  • Foo Fighters
  • Gato Zarolho
  • Gothic Night
  • Joni Mitchell
  • Jorge Vercilo
  • Korn
  • Lacuna Coil
  • Lana Del Rey
  • Legião Urbana
  • Lenine
  • Lisa Thiel
  • Loreena Mckennitt
  • Los Hermanos
  • Madredeus
  • Mallu Magalhães
  • Matanza
  • Mr. Freeze
  • Nando Reis
  • Nirvana
  • O Teatro Mágico
  • Oasis
  • Os Tribalistas
  • Oswaldo Montenegro
  • Pixies
  • Rita Lee
  • Roxette
  • Secos e Molhados
  • Shakira
  • Shaman
  • Tenacious D
  • The Cramberries
  • The Doors
  • The Killers
  • The Runaways
  • The Smiths
  • Tiê
  • Tuatha de Danann
  • Tulipa Ruiz
  • Wander Wildner
  • Within Temptation
  • Zeca Baleiro

Filmes Recomendados:

  • A casa do lago
  • A dama na água
  • A história de O.
  • A invocação do mal
  • A papisa Joana
  • A rainha dos condenados
  • Adaptação
  • Advogado do diabo
  • As brumas de Avalon
  • As vantagens de ser invisível
  • Azul é a cor mais quente
  • Bernie
  • Branca de neve e o caçador
  • Christiane F.: 13 anos, drogada e prostituída
  • Como esquecer
  • Constantine
  • Da magia a sedução
  • Delta de vênus
  • Detroit rock city
  • Dicionário de cama
  • Diário de um adolescente
  • Drácula
  • E aí, comeu?
  • Eclipse de uma paixão
  • Em luta pelo amor
  • Entrevista com o vampiro
  • Espelho, espelho meu
  • Fahrenheit 451
  • Garotos de programa
  • Gattaca
  • Henry & June
  • Histórias de amor duram apenas 90 minutos
  • Hoje eu quero voltar sozinho
  • Jovens bruxas
  • Laranja mecânica
  • Ligações perigosas
  • Malévola
  • Mama
  • Meninos não choram
  • Nosferatu
  • O Hobbit: uma jornada inesperada
  • O beijo de drácula
  • O guru do sexo
  • O homem duplo
  • O nome da rosa
  • O poderoso chefão (3 filmes)
  • O sabor da magia
  • O óleo de Lorenzo
  • Opium
  • Paper moon
  • Paul
  • Praia do futuro
  • Querido John
  • Scott Pilgram vs. o mundo
  • Se beber, não case! (3 filmes)
  • Sideways - entre umas e outras
  • Sin city
  • Smurfs
  • Submarino
  • Superbad
  • Tean America
  • The Doors - O filme
  • Trem noturno para Lisboa
  • Vanilla sky
  • Ágora