Música e lembranças
Houve um dia em que eu estava mal, e eu passei uma maldita tarde de sexta-feira, deixando-a ainda pior. Nessa tarde, havia muita conversa, desabafo e... conselhos? Via internet. Essas ações, felizmente, me mantiveram de alguma maneira, controlada. E com uma das pessoas com quem conversava, o assunto desembocou em músicas. Ele afirmou ter algumas músicas que gostava de ouvir quando estava mal. Sabe aquelas letras tipo: “suicídio imediato” ou “recuperação automática?” Pois é, ele me indicou 3, e eu recordo claramente. Ele perguntou: “Tem certeza que você aguenta?” E eu disse: “Manda. Pior que eu tô, não fico”. Pois bem, as letras eram: Everybody's gotta learn something do Beck; Society do Eddie Vedder e The Moon do The Swell Season.
Interessante como as músicas podem fixar situações e sensações. Ainda que muito tempo tenha se passado, quase pode-se voltar ao momento exato de certos atos. Pena não poder modificá-los, nem na realidade, nem na utopia imaginativa. De forma que, se a ação continua viva, ainda que no pretérito, tudo que ela acarreta, ainda que no mundo dos sentidos, assim também continuará. O bom é que, como elas aproximam maus momentos, assim também ocorre com os bons. E quando passa o furacão, a tempestade, você pode ter algum momento de paz, simplesmente com a audição de uma música.
Sempre há “aquele dia” em que você acorda pra sentir toda a dor dos erros e perdas da sua vida. Bem, é fato que, também pode ser “aquela semana”. Mas você sabe que em vez de “suicídio imediato” você sairá com “recuperação automática”. Em vez de afundar, você submergirá, da mesma forma que alguém jogado fortemente numa piscina profunda, o é. Porque tudo que é intenso, deixa a sensação de “nada pode ser pior” ou de “se passei dessa, nada mais me derruba”. É quase que a sensação de tornar-se um super-herói.
Claro, essa segurança toda pode também ter um lado negativo. Algumas vezes, as coisas podem sim ser extremamente dolorosas e, infelizmente, ter sentido algo tão profundo e negativo antes, não te permite a insensibilidade. Mas, você realmente acredita que, em breve, muito em breve, tudo estará solucionado e você estará mais forte que antes. E a música, sempre participa disso: dessa queda-recuperação. Como de todo outro e qualquer momento da vida humana. Elas remetem a lugares, pessoas, situações, sentimentos...
A música tem o dom de aproximar, como também de tornar em verdadeiro, ainda que no momento em que se ouve-a, algo irreal. Ouvi The Moon, hoje, pois fazia parte da trilha sonora de um filme que assisti. E certas lembranças, por outros motivos já reavivados, em mais vivas transformaram-se. Não canso de me surpreender com a memória. Em como ela pode nos passar uma realidade tão presente das sensações. Chega a assustar algumas vezes. Quase como se nada a pudesse controlar. Quase como se ela mandasse em você, e não o inverso. Como seria a vida sem trilha sonora? A dor não seria tão dolorosa. A vida não seria tão rimada. O amor não seria tão intenso. Nada teria profundidade, exuberância. Não teria vida.
Flor de Lótus
Julho 2011
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