Faces da Morte*
As DORES e suas formas.
O MEDO e seus disfarces.
A MORTE e suas faces.
A Exposição que se encontra no SESC/AL, causou-me o reconhecimento desses três elementos citados, em destaque, acima.
A princípio, como porta-voz do que estará por vir, um esqueleto - o anfitrião.
Em seguida, carcaças de animais, como bois e vacas, me fazendo uma referência a seca. Olhos fundos, vagos, desanimados.
Continuando as cenas voltadas à morte: rostos sem identificação, bocas e dentes expondo dor e medo. Um grito surdo, mas ouvido em suas expressões.
Vida e morte parecem chocar-se, na busca extrema, dos rostos e carcaças expostos, pela sobrevivência.
Percebe-se o extremo do ser humano buscando forças através de faces hediondas, de lutas corporais para continuarem vivos.
Sente-se a dor e a tristeza. A desilusão, o esgotamento pela luta vã. Mas ainda assim, a tentativa.
O quanto percebe-se de morte, no que está estagnado para a eternidade, é sentido de vida, nesse conflito, nessa busca insana e violenta para ainda existir.
Demonstra, a partir de outra perspectiva, a luta diária de cada pessoa contra seus demônios íntimos.
A peleja contra os maus sentimentos com os quais deparamo-nos ao vivermos, ao relacionarmo-nos com outrens.
Finalizo com uma frase que parece cair perfeitamente, aos meus olhos, com a Exposição:
“Eu vi a cara da morte, e ela estava viva. Viva!" (Cazuza).
Flor de Lótus
Outubro 2011
*Texto sobre a Exposição do Sesc:
O insetiSismo
Um comentário:
Mais um das criações para o "Escrever pra que?".
Em setembro do ano passado, visitamos a mostra "Incetisismo", lá mesmo no Sesc Centro. Era uma exposição individual do artista visual alagoano Allan Monteiro, que reunia esculturas feitas em ferro, resina, massa plástica e outros materiais.
Na entrada havia um cartaz que fotografei. Não li nada sobre o artista e o estilo. Não fotografei as peças para que escrevesse apenas o que senti na hora. Sem rever e reavaliar.
Fórceps
Eu olhava e só via desespero. Não: angústia, medo, dor, solidão, terror, espanto, loucura. Desesperadamente intensos em fluidez contínua. Mesmo os intervalos não pareciam pausas, pois no espaço aparentemente vazio o grito, mudo, ecoava.
Parei, olhei e falei. Dos olhos à boca sem filtro: “- O desespero era tanto que explodiu a cabeça para poder sair!”. Envergonhada ante os olhares de estranheza dos colegas, me desculpei e prossegui, calada, mas torcendo pra alguém me perguntar alguma coisa, pois minha língua estava doida para fugir da boca e colocar pra fora pelo menos a metade das coisas que povoavam a minha cabeça. Antes pela boca que pelo topo do crânio.
Era um tipo de latrina. Ou um calabouço. Um híbrido de privada e masmorra. Um espaço onde ele expeliu, de uma forma ou de outra, uma tormenta avassaladora. Seus monstros deviam ser grandes e terríveis. E ele deu descarga. Alguns eram invisíveis e saíram pela boca, ou abriram caminho à força, explodindo uma cabeça torturada de diversas maneiras, por várias vezes. Havia ainda os que foram paridos em agonia, ou aguardavam a sua vez, ondulando em pêndulos de crisálidas improváveis.
Ele deve ser existencialista. Não quero pensar que seja alguém consumido pela depressão. De qualquer forma, percebi sua angústia de sentir um conteúdo crescente num continente limitador. A impotência de sua condição humana à mercê de um mundo castrador e de uma imaginação desenfreada. Quais teriam sido suas escolhas para que chegasse até ali? O que ele teria feito com a sua liberdade para que sua existência fosse de conflito e fuga? Que experiências e relacionamentos colecionou em sua existência que justificassem tudo aquilo?
Não consegui dar uma face ao criador analisando suas criaturas. Pior, não consegui captar a beleza que existe em toda obra de arte. O grotesco e o horror, para mim tem de beleza apenas a ausência. Também não fiz grandes aquisições intelectuais. Encontrei ali uma representação plástica do desespero. Talvez fosse a terapia do artista. De saldo, a alegria, o alívio e a certeza de não me reconhecer em nada, e a esperança de não termos nada em comum.
http://senaoescreveresqueco.blogspot.com.br/2012/04/forceps.html
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