Quase carta à um quase Amigo*:
Meu velho Amigo,
É, me parece uma boa forma de começar. Se é que algum início ainda é possível. Se é que o tempo é mesmo medível. Se é que sua demarcação é única e igual para todos.
Parece que, independente de qual seja essa delimitação, tudo que há para ser lembrado é velho, longínquo e desconexo. Mas, se a definição de velho é algo que não mais serve, digamos que você seja apenas...
Meu distante Amigo,
Sua presença em dias de inverno, cujas folhas na janela vidrácea de meu quarto, formavam desenhos mentais de sua presença, ainda existe.
Poderia relatar as mensagens que se apresentam nas situações mais absurdas. As coincidências geográficas que me transmitem a sua matéria próxima, ainda que saiba a tamanha distância a qual ela se encontra. Mas, se a definição de distante é algo que não mais está ao nosso contato, digamos que você seja apenas...
Meu Amigo,
As lembranças que cercam minha mente, a saudade que preenche meu coração, os sentimentos que moldam minha alma, não permitem que você se faça velho, distante, tampouco apenas amigo. Pois, se a definição de amigo é alguém que não mais desejamos, que não mais esperamos despertar desejo e que não mais sentimos ter a alma dividida, você, claramente, não se encaixa nessa definição.
...
É, me parece que não é uma boa hora para começar. Talvez, porque para mim, ainda não tenha findado. Afinal, o fim é diferente para todos.
* Inspiração a partir da música 'Someone like you' da Adele.
Flor de Lótus
2012