Causos do Interior - 1
A primeira coisa que
se faz quando há uma mudança de espaço físico geográfico é
observar a rotina das pessoas do lugar. Talvez por curiosidade.
Talvez por instinto de proteção. Há algumas pessoas que fizeram
parte do meu radar ambulante, sendo observados à distância.
O Cara da farmácia
Ele é meio estranho.
Sua altura excessiva o faz um pouco descoordenado. Aprendi nas aulas
de karatê, que nossa cintura é nosso equilíbrio, e que, quanto
mais distante ela se encontra da superfície, mais perdemos nosso
censo de coordenação. Mas, talvez, Ele seja assim por dentro
também. Descoordenado.
Ele parece meio
introspectivo demais, e tem um jeito indefinível de olhar para os
outros, para as coisas. Eu acho que ele é farmacêutico. Me admira
que com toda aquela aparente dificuldade de comunicação ele tenha
terminado uma faculdade. Acho que não há cursos técnicos de
farmácia.
Ele
tem olhos azuis. Ou talvez sejam verdes.
Uma cor que se situa entre ambos. Talvez ele seja evangélico e isso
explicaria sua aparente tranquilidade em demasia. Mas claro, ele pode
ser um assassino que utiliza os remédios de sua farmácia em suas
vítimas. Ele realmente tem uma maneira de olhar, estranha. E quase
não se comunica. Bons sinais de ser mau.
Ele é o dono do
recinto. Eu deduzo isso porque ele o abre e fecha ao seu bel prazer,
sem horários fixos pré-estipulados. Por falar nisso, ele inda não
abriu as portas. Cerca de uma hora de atraso, do 'comum' horário
diário de abertura do seu negócio. Será que na última noite uma
de suas vítimas conseguiu se salvar e detê-lo? Será que uma delas
fez a ele o que o próprio fez a tantas? Continuarei observando.
P. S.: Minutos após
uma última observação, a partir de uma fração insignificante de
segundos, as portas abriram-se. Ou, no caso, foram abertas. Ele
continuava lá. Sentado em sua cadeira, vez ou outra lendo um livro.
Continuava com seu olhar indefinível. Quem será sua próxima
vítima?
Flor de Lótus
18/04/12
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