Ela observava de
fora, tanto quanto seus olhos podiam alcançar. Ela se perguntava onde estava na
hora certa, e porquê tornou todas as outras em erradas. E toda dor que suas
lágrimas contidas tentassem expor, seria pouca, porque haveria de ser uma dor
eterna, das horas escorridas pelo relógio da vida.
Ela sabia a perda que
havia tido, e que jamais a recuperaria. Um momento. Uma palavra. Um dia. Uma
noite. Um beijo. Sempre acompanhada desse número. Nada mais. Tudo menos.
Ela se sentia
roubada? Ela se sentia covarde? Ela se sentia inocente? Ela se sentia
incompleta. Ela se sentia partida. Ela se sentia vazia. Ela sabia quantos
abraços, beijos, momentos, eu-te-amos, dias e noites havia perdido. Ela sabia
que um era tudo que podia ter. Mas Ela sabia que mereciam mais. Mais
luta. Mais coragem. Mas também menos. Menos inocência. Menos silêncio. E por
tudo que havia perdido, ou deixado se perder, ela chorava. Chorava com a alma
amarga, com o coração doente, com a mente insana.
E o que fora seu, não
mais lhe pertencia. Como um fantasma que rodeia sem ser visto. O cinza dos dias
frios, refletia-se para Ela, em tons de marrom, vermelho e bordô. O marrom dos
olhos. O vermelho dos lábios. O bordô do vinho.
Como respirar
novamente, sendo agora metade, após a sensação de completude? Quem pode sobreviver
após saber como é viver? O que Ela sentia era reflexo do que desejava? O que Ela
desejava refletia o sentimento de sua Metade perdida?
Ela escreveu a
história mais bonita, um épico para o Tempo, tentando convencê-lo a paralisar.
Em vão. Todas as forças da natureza não foram suficientes. Os feitiços. As
lembranças. Os artefatos. As letras. Apenas história. Ou, quem sabe, estória.
As palavras ditas. As
frases escritas. Os morcegos circulantes. As folhas farfalhantes. Os obrigados.
Os eu-te-amos. Os cortes trocados. Os beijos de chiclete. A saliva com vinho
barato. O som de Dois, à dois. As dedicatórias deixadas. As setas
indicando o caminho, perderam o sentido. Os trevos da sorte. A sorte.
Esvaiu-se.
Mas Ela agradece pela
dor e desgraça de cada dia desde então, porque é dessa lama que surge sua
pétala mais bonita. Pois Há uma luz que nunca se apaga*. Nunca. Mas
talvez, nunca, seja tempo demais.
*Referência a música There is a light never goes
out do The Smiths.
Flor de Lótus
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