A cor da música*
As cores são utilizadas pela cromoterapia para remeterem a um determinado estado de espírito; assim como também no auxílio à cura de doenças. Quando busca-se paz, o Branco é utilizado. Quando pensa-se em dinheiro, o Amarelo. Quando o interesse, embora não apenas financeiro, é material, vale-se do Marrom. Falando em saúde, o Verde. Paixão, o Vermelho. Amor, o Rosa. E assim por diante. As cores tem sim, esse 'poder' de remetimento à algo.
Assim como As quatro estações de Beethoven, que direcionam a mente humana para cada estação especificamente, outras músicas podem, se for bem observadas, permitir essa identificação, esse reconhecimento: seja com estações, cores, ações... A intensidade dos toques, os instrumentos utilizados numa melodia, tanto quanto, ou até mais que, sua letra, são passíveis de hiperlink com as cores. Embora é fato, não seja exercício comum e/ou diário do ser humano.
As cores na música também podem ser identificadas de acordo com a profundidade do quanto a melodia/letra toquem quem as ouve, as lembranças que remetem, as vontades que desperta. A música em questão, La Valse D'Amelie, cuja não tinha tido a oportunidade de ouvir anteriormente, possui, ao meu ouvir, tons que se elevam. Iniciando-se com um tom claro, quase invisível, com suas tonalidades multiplicando-se, divergindo, dando fusão à outras. Tal qual um arco-íris.
Poderia observar dessas duas formas, as músicas: lembranças que remetem e vontades que despertam. Podemos, ainda, acrescentar-se a questão da letra em si. Contudo, de forma mais subjetiva, acredito que as lembranças e os desejos, são as mais interessantes. A música do exercício, começa singela, quase que uma dança íntima da mente com os sentimentos internos e individuais. Num segundo momento, de acordo com o aumento dos tons, ela permite o desejo da dança, o convite aos movimentos corporais, te tira da pura contemplação mental. Acredito que, o primeiro momento seria de cores claras; enquanto que o segundo, contemplaria as cores mais vibrantes. Os desejos modificam.
A outra observação, que preocupa-se apenas com a melodia em si, ainda que de 'outra maneira' de observação, possui os mesmos sentimentos com relação às cores. Nesse caso, as lembranças se apresentam. No início, com um tom mais leve, fechando os olhos imagino mudanças de amarelo-claro e rosa. Transformam-se lentamente em azuis e verdes. Posteriormente, segue-se os tons de lilás e alaranjado. Na sequência, o vermelho se apresenta, no momento mais alto dos tons melodiosos. Nesse momento, a vibração é mais intensa, o êxtase é alcançado, então, posteriormente, a energia novamente decai. Então, os tons avermelhados transformam-se em alaranjados, lilases, azulados, esverdeados e novamente amarelos.
Tons claros, discretos, calmos e pacíficos. Silenciosos.
*Texto baseado na música La Valse D'Amelie de Yann Tiersen.
Flor de Lótus
Agosto 2011
Um comentário:
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As Ondas
As ondas
“Vocês cantam magnificamente!”, exclamou uma das noivas enquanto todos aplaudiam. Sorri e concordei intimamente. O Prisma realmente canta muito bem. Eu faço parte do grupo e me orgulho de sua qualidade, mas não foi esse o único motivo de meu sorriso. O coro leva o nome do belo objeto que divide a luz branca nas sete cores que a compõem. Somos luz, cor e música.
E lá estava eu, no meio de tudo. Sendo parte dele e do sonho das quatro jovens que discutiam, desarmonicamente, como escolher a mais adequada peça de Bethoven ou Vivaldi; ou quem entre Schubert e Gounod havia feito a mais tocante melodia para a Ave Maria; ou se as daminhas deviam entrar sob os acordes de “Alecrim Dourado” ou “Além do Arco-íris”. Era o piano, a flauta, o oboé, o violino e o violoncelo. E nós.
Meu sorriso continuou meio escondido, aparecendo um pedacinho aqui e acolá, enquanto caminhava para o ponto de ônibus e pensava na relação entre cor (luz) e música. Fisicamente são ondas: uma podemos ver e a outra escutar. A primeira é mecânica e a segunda eletromagnética. Essa parte escondeu o sorriso quase de vez. Segui decida a ouvir a música e sentir todas as suas ondas.
Quando a melodia começou a tocar lembrei-me das caixas acústicas da vitrola do meu pai. Eu gostava de ficar deitada no chão bem perto de uma, que ficava em cima do tapete, ao lado do sofá. Ficava lá deitada, com o corpo quase encostado, sentindo a pulsação. Ela parecia viva. A música era a alma da caixa acústica. Meu pai era o deus que a insuflava.
O netbook não serve para isso. Não dá pra ouvir música de verdade desse jeito. Tentei os fones de ouvido e melhorou um pouco. Apaguei as luzes, fechei os olhos e esperei. Elas começaram a chegar de mansinho. As ondas. As do som e as outras. E eu entrei nesse oceano. Lá estavam elas. Começaram fraquinhas e mornas, como uma massagem nos pés. E fui caminhando mar adentro, sentindo-as crescer em tamanho e calor, vagarosa e intermitentemente. Mas não me encobriram completamente, e eu queria a completude. Então soltei meu corpo e me deixei levar, boiando. A temperatura parou de subir e me deixei embalar. Fiquei alguns instantes assim, confortavelmente aquecida e acarinhada. Perfeitamente conduzida.
Não percebi que o banho – ou a dança - estava acabando. Durou menos do que parecia certo, mas não foi um corte desagradável. Mas antes de terminar eu as vi. Com seus belos tons de rosa, salpicados de lilás e branco, harmonicamente combinados, como numa paleta de cores de quarto de menina-moça. Quase senti o gosto de algodão-doce e chiclé na toalha felpuda de nuvens que me manteve aquecida ainda alguns minutos.
Abri os olhos devagar. Breu. A porta do quarto estava aberta, o apartamento dormia. Ouvi a lenta respiração da Alice, a minha Amelie. Amanhã vou escutar a música com ela. Vamos sentir as ondas juntas. Levantei, fui até a sala e chamei o Henrique que dormia no sofá, com o controle do Play Station 3 na mão. Compartilhei minhas sensações. Ele viu uma Amelie pré adolescente do século 18, correndo num campo de flores com um guarda sol na mão.
Pensei num campo de flores delicadas, balançando ao som melódico do vento, misturado ao farfalhar das saias e ao riso da menina. Ao fundo o meu oceano cor de rosa com cheiro de doce.
Se você também quiser a partitura, use o link:
http://pt.scribd.com/doc/38156722/piano-amelie-partitura-la-valse-d-amelie
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