A vida nos prega algumas peças, é incrível como certas coisas se desencaminham de forma tão inesperada. Você tenta fazer tudo da melhor maneira possível, para evitar que certas outras coisas ocorram, e aí vem alguém externo à você, e faz com que elas desencaminhem de tal maneira, que você quase deseja ter provado de certos prazeres, já que o resultado viria independente de suas ações e escolhas.
Outra coisa facilmente perceptível à mim agora é que, ninguém é tão insignificante o suficiente para que não mereça observância e indagação. Afinal, o que o é para um, não da mesma forma o é para outro, sabendo-se só de si mesmo, e, dependendo do estado mental do sujeito, nem de si mesmo se sabe, que diria do outro.
A mente humana é tão fraca e pode ser tão mutável, situações ontem fixas, são hoje tão insignificantes, tão insalubres, tão desnecessárias. Nada como um dia após o outro – não sou exatamente chegada à clichês, mas bem, se eles existem e viram clichês, é porque favorecem a nossa realidade, desde a mais massacrante até a mais simplória.
Os sentimentos nos tornam escravos de nós mesmos, controlá-los é quase que impossível. Mas às vezes, depois de todas as lágrimas terem sido expostas, depois de toda a dor se tornar “normal” ao ponto de passar despercebida, ou de o seu grau de intimidade ser tanto ao ponto de nem senti-la mais, você então consegue manter o domínio.
A sensação de vazio pode ser uma das piores, pois sem identificação do sentimento não há como tentar revertê-lo, não há como redirecioná-lo, diminuí-lo, extingui-lo, expulsá-lo. A sensação da não-sensação, da imobilidade, da incerteza, e ao mesmo tempo a certeza do incerto próximo, é agonizante, desgastante, chega um momento que você se olha no espelho e acha que não vai mais aguentar dar o próximo passo.
Mas então um dia, você simplesmente acorda e consegue sorrir, e passa a observar coisas ao seu redor, que estavam antes invisíveis aos seus olhos. Percebe quantas outras pessoas existem, que estão ao teu lado sempre, e que dividem as suas alegrias e as suas tristeza, e estas sim, não exatamente extorquem nada de você, apenas a sua presença, suas palavras de conforto, seus sorrisos, sua força, a divisão do “eu” que você é.
Nesse dia você percebe que o vazio tem seu lado positivo, pois te deixa um pouco mais sensível (assim como a tristeza), o que te faz observar melhor o mundo ao seu redor, e o quanto há pessoas em situação pior que a sua. E ao mesmo tempo em que você está fraca, você possui uma força inimaginável dentro de si, pois sua dor parece tamanha, que nada mais parece extravasá-la, e todas as outras mazelas parecem insignificantes.
Mas infelizmente, a solidão da noite te traz recordações tão próximas, tão íntimas que foram retiradas de forma tão violenta, tão inesperada, que não te deram tempo de preparo. Porém as lágrimas noturnas, as músicas downs, os soluços e os cacos de vidro sendo enfiados re-enfiados e novamente enfiados em seu coração, felizmente desaparecem com o sono, e você pacificamente dorme, ao menos você realmente consegue dormir tranquilamente.
Então mais um dia nasce, o sol brilha e te esquenta a alma, a chuva cai e te limpa a alma, basta apenas observar os sinais, senti-los, persegui-los. E nesse novo dia, você percebe o muro que existe entre você e o mundo, e o quanto você está protegida dele, e forte, e segura, e nesse momento, agir com certa “repugnância” torna-se “quase fácil”, desde que você tenha um objetivo a ser alcançado.
Flor de Lótus
2010
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