A Volatilidade dos sentimentos
Não que todos cujo um - ou no caso vários - dias da minha vida tenha sido parte fundamental da mesma, estejam todos ao meu redor ou de alguma forma ainda ligados à minha pessoa, mas, os que realmente foram íntimos, de alguma forma, em algum momento, sempre por mim são lembrados (tanto homens como mulheres, que fique claro que minha inquietação sobrevoa ambos os seres, observando a importância destes enquanto seres humanos e não enquanto gênero).
Assistindo um filme nessa tarde (Três formas e amar), no final do mesmo uma das personagens principais refletia sobre os acontecimentos pelos quais havia passado, e as pessoas que com ele dividiu-os, e ele questionava-se: 'como uma pessoa pode ser tão importante para outra num dia, e simplesmente desaparecer no outro?'. Incrivelmente eu pensava no 'tema' já a alguns dias me preparando para escrever algo sobre, então a vontade me saltou dos entranhas e a exponho aqui nesta tarde ensolarada, tomando meu velho vinho gelado ao som do acústico de Engenheiros do Hawaii.
Muitas vezes, ouvindo meu mp3, pegando aquele velho ônibus que faz um tour por parte de Maceió antes de chegar em minha residência, eu penso muito, muito e muito. Eu me indago, eu me exponho, eu me inquieto e me observo: me descubro. Dentre esses questionamentos está esse de como as pessoas ontem imprescindíveis para sua respiração simplesmente continuar, são hoje tão insignificantes, esquecíveis, desnecessários.
Claro, como já disse antes: há situações e situações. Quando lidamos com pessoas, a maleabilidade, inconstância e flexibilidade parecem ser de extrema importância e necessidade, logo, um caso pode não se adequar ao outro. Isto acaba de nos gerar outra pergunta: de que forma a relação se iniciou e o motivo de seu fim.
Primeiro, há situações onde as pessoas com as quais você convive tornam-se imprescindíveis pelo fato de tudo que traz ao seu mundo, tanto de bom quanto de mau, sendo estas situações saudáveis, onde a sensação é tão prazerosa que nos faz achar ser para sempre. Há situações, onde o 'para sempre' se finda por motivos externos e inimagináveis, mas ainda assim, saudáveis.
Há as pessoas que sabemos pertencerão ao nosso círculo íntimo por tempo determinado, seja pela situação apresentada, seja pela intuição, mas estas, sabemos ter algo de bom para nos contribuir e bons momentos para dividir e somar. Dentre essas, outras mais podem se apresentar, mas todas com boas intenções, pessoas que vão e vem, porque assim a vida é: uma eterna Roda Viva, como diria Chico Buarque.
Diferenciam-se esses casos, dos quais pessoas aproveitando-se de sua bela aparência e dom da retórica infiltram-se nas vidas alheias, com toda sua 'lábia' e de repente, quando tudo parece estar se fixando, quando a tatuagem parece estar perdendo a pele morta, simplesmente ela por completo começa a descascar.
Essas pessoas em especial me causam certa estranheza, dúvida, tristeza até. Não sei se posso confiar em pessoas que tratam as outras como objetos inválidos, temporários na pior forma. Alguma vez na minha vida alguém falou que o que cercava o relacionamento humano era o interesse. Isso não é de todo mentiroso, muito pelo contrário, torna-se totalmente fatídico se por um mísero minuto for analisado. Mas isso é assunto de outra discussão, quem sabe em breve. Mas, levando em consideração essa afirmativa, ainda assim, as pessoas não podem simplesmente cortar o passado como se corta um fio de cabelo, afinal de contas, ainda que assim seja feito, ele continua a crescer.
Eu entendo que algumas pessoas 'ficam para trás', mas que seus 'ensinamentos' permanecem, mas não consigo aceitar o fato de que indivíduos antes tão unos, possam ser tão díspares, opostos e possuam quase que uma antipatia natural. Não consigo digerir que essas pessoas não se olhem de forma serena, boa, simples que sejam, mas que simplesmente saibam que a outra ainda existe, e tenha com ela o mínimo de empatia. Que suas presenças recordem aprendizado e ao menos amizade, carinho, respeito.
Independente de como o relacionamento se inicie, a afastamento é sempre uma pena, mas a forma, motivo e a sequência dele pode passar além da penosidade. Há pessoas que adicionam e excluem pessoas de seu convívio íntimo como se as mesmas fossem apenas um rosto no orkut, e não necessitam necessariamente de bons motivos para essa atitude. Creio que essas pessoas são confusas, e precisam confundir outros para se perceber assim, então apenas depois de ter causado ao outro aquilo que sentia, conseguem então se compreender.
Acredito que todos possuem um alguém, ou alguns alguéns com quem realmente a relação ainda que 'colegável' se torna impossível por situações que ocorreram, mas, até o fato de estas situações terem ocorrido, se oriundas de pessoas que tanto se gostavam, nos dá uma sensação de solidão, vazio, volatilidade, como se soubéssemos que todo encontro um dia vai se findar, que a tampa será aberta, e sem que percebamos simplesmente se extinguirá.
Flor de Lótus
01/12/10
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