Estranha intimidade
Um vento frio perpassava a janela entreaberta. Contrastava com o calor do corpo após o exercício em busca do prazer.
- Da próxima vez eu vou cobrar...
- E é? Vai ser assim agora?
- Não. Pra você é de graça. Porque me dá prazer.
Mostrava suas costas largas. Seus braços fortes e definidos. Olhava de soslaio na beira da cama, observando a resposta dela. Com seus olhos castanhos enormes redondos inquisidores cheios de dúvida e questionamentos nunca respondidos. Nunca elaborados.
- Odeio rosa. Mas adoro - com total intensidade contrária - homem que usa camisa rosa.
- Ah se eu soubesse disso antes...
- Muito embora, sendo você, prefiro sem nada mesmo.
Sobre como duas pessoas, outrora íntimas.
Que conjugaram seus corpos. Dividiram uma cama desforrada.
Um ventilador.
Saliva. Suor.
Desejo?
E sobre como estas mesmas duas pessoas são - externa e publicamente - meros desconhecidos.
Que passam um pelo outro.
Dividem o mesmo espaço. Por uma fração de segundos.
Não se falam. Não se olham.
Outro olhar receoso é lançado. Acompanha-o um sorriso frouxo. Lábios largos. Dentes brancos. Sussurro.
- Ah esses olhos. Essa boca. Adoro seu beijo. Seu corpo.
- Você está mais gostosa. Está realmente mais gostosa. O que você tem feito?
- Muito sexo.
Flor de Lótus
Julho 2015